sábado, 21 de março de 2015

Boquim mais que 145 anos de histórias

fonte e texto:  boquimhistoriaecausos.blogspot.com
        
Só amamos aquilo que conhecemos...eis uma verdade que sempre nos libertará!
Igreja Matriz S.Santana
(antes da reforma)
         E na História são tantas as verdades que nem sempre queremos buscar ou aceitar como elas são formuladas. Nossa cidade de Boquim de forma tradicional comemora a mudança da sede administrativa de Lagoa Vermelha para o povoamento Boquim em 21 de março de 1870, de forma equivocada, como se fosse a independência ou a criação do município (em outra postagem que fiz aqui mostro outras datas de aniversários despercebidos por nossa sociedade).
        Existe resolução no município pelo conselho municipal que fomenta a história de nossa cidade. Existem proposituras entregues a prefeitura para que a mesma aja em favor da memoria e do patrimônio publico cultural de nossa cidade, mas pouco divulgada ou posta ao ostracismo porque a Cultura a Memoria e nossa História precisa revelar muitas verdades, que podem revelar outra Boquim além do ufanismo religioso exposto no Hino e na Lenda de mudança da Lagoa Vermelha para a Boquinha da Mata. Sendo data festiva não poderia deixar de posta algo como venho fazendo todos os anos.
        Mas hoje postarei parte de um trabalho monográfico do Professor da rede pública municipal de Boquim, José Marcos Santos Maciel sobre "UM ESTUDO SOBRE A FORMAÇÃO, DESENVOLVIMENTO, ECONOMIA E POPULAÇÃO (LIVRE E ESCRAVA) DE BOQUIM OITOCENTISTA (1852-1876)".
        Trabalho muito rico sobre verdades de nossa história que pode e deve ser multiplicado as nossas escolas públicas, privadas e estaduais em Boquim. Então vamos a este banquete histórico, saborear um pouco de nossa Boquim - Terra da Laranja...a Tabaroinha do Interior...
       
 

 
Apontamento sobre a economia e população de Boquim da segunda metade do século XIX.
                                                                                  *José Marcos Santos Maciel é Professor da rede pública municipal de Boquim

Pov. Lagoa Vermelha(anos 90)

A região de Boquim se destacava na criação de gado e na plantação de gêneros alimentícios, como foi possível observar nos inventários analisados. Os alimentos de subsistência serviam para abastecer a vila, como também eram comercializados na Província e até mesmo exportados para a Bahia. O Relatório de Província trás informações sobre “O algodão e cereaes que se exporta para os mercados da Estancia e Bahia”.
No entanto, a vila se destacava sobretudo na plantação de algodão e açúcar, principais produtos da região, como ressaltado no Relatório de Presidente de Província de 1870: “O assucar e o algodão são os principaes ramos de produção”. O algodão da vila era exportado para Estância e Bahia como afirmado acima.
             No entanto, não é mensurado no Relatório de Província o destino do açúcar do município boquinense. Mas, como até o final do século XIX, há um crescimento no número de engenhos em Boquim, é provável que houve um aumento na produção de açúcar, e que essa não era somente destinada para o consumo local, sendo destinada também para o porto de Estância e exportado para o exterior.
A criação de gado vacum e cavalar foi bastante intensificada em Boquim na metade do século XIX, quando se utilizava o gado para alimentar os habitantes da vila e da província. Além disso, a pecuária era de grande importância para o desenvolvimento da vida no interior sergipano, assim como na vila de Boquim, pois conforme Almeida: “A criação de gado no agreste e no sertão pôs em movimento esse interior e atraiu a especulação de comerciantes capazes de gerar o desenvolvimento precoce dos seus centros urbanos e algumas de suas aldeias.”
 Era feito o uso do couro do animal para fazer sola, como também para revestir as cordas do fumo plantado na região. O gado era vendido para servir como força motriz para os engenhos sergipanos, sendo no período o principal meio de transporte de pessoas e mercadorias. Almeida salienta que a criação de gado:
Ligou-se muito fortemente à própria produção do açúcar, além de servir de alimento ao ajuntamento humano que os engenhos geraram. Cavalos e bois, em maioria, movimentaram as máquinas de fazer açúcar até o fim do império. Além disso, o gado conduzia as canas no interior da propriedade ou levava os açúcares aos portos de embarque.
Referindo-se a intensificação do gado na produção canavieira encontramos no inventário de Anna Josefa Lima Seabra, 30 bois mansos de carro. O gado foi muito importante para a economia de Boquim no período estudado, pois como a vila tinha como uns de seus principais produtos a cana-de-açúcar, ele era utilizado para transportar a produção do canavial até os engenhos, e do açúcar dos engenhos até o porto da cidade de Estância para ser exportado para o exterior.
              Os inventários post-mortem de Boquim revelam que parte considerável da população criava gado. Duas habitantes da localidade possuíam uma criação bem expressiva, Dona Eugenia Maria de São José, era dona de 402 gados vacuns e 5 cavalar,  e Dona Paula Josefa de São Pedro de 326 gados vacuns e 56 cavalar. Esses números são bem significativos para a época.

Faz. Palmeiras

Vislumbrando tal prerrogativa, é possível afirmar que o gado era utilizado na vila como meio de transporte e para alimentar seus habitantes, como também para abastecer o mercado da província, pois a quantidade de gado nos inventários citados anteriormente é bem significativa para ser comercializado somente nos limites da vila. Porém, não se pode afirmar que a carne bovina da Vila de Boquim, na metade do século XIX, era exportada para o mercado baiano.
Segundo Carlos Roberto Santos Maciel, em Lagarto, no início do século XIX, a carne bovina era utilizada na alimentação dos habitantes da vila, da província, e também, por vezes, exportada para a Bahia. Lagarto era a maior criadora de gado da província, e concentrava as maiores propriedades produtoras de gado. Dois de seus habitantes tinham uma criação superior a mil cabeças de gado, uma quantidade significativa até para os dias atuais.
Em Boquim, na metade do século XIX, a quantidade de gado não era tão expressiva como em Lagarto, no início do mesmo século. Provavelmente, o gado da vila não era exportado para o mercado baiano e se restringia ao mercado local e provincial.
A criação de gado e outros animais na Vila de Boquim se dava em lugares distantes dos canaviais e roças, de modo que, aqueles que não cumprissem tais restrições, recebiam punições, haja vista que:
                                        
Ficam reservados para creação os terrenos denominados – Rio da vacca, Moenda, Salgado e Grillo,- até o fim deste lado norte, assim como também poderá se ter qualquer animal de trabalho nos tabuleiros do Buquim, Miguel dos anjos e cajazeira, ficando sujeitos acoima sendo encontrados em lavoura. É  prohibido creasse gado cabrum, ovehum e suíno nos lugares de plantações; os que forem encontrados nas roças poderão ser conduzidos ao curral do conselho, pagando os donos 1$000 rs. Por cabeça, e os que forem encontrados de nonte no povoado serão apprenhedidos pelo fiscal, pagando os donos 4$000rs de cada um, e depois de dous dias, não tendo quem os procure, serão arrematados e seu produeto fará parte da receita municipal.
Além da criação de gado, a região caracterizava-se também pela produção de milho e feijão, os quais eram destinados a alimentação da população da Comarca e serviam como produtos de exportação para o mercado da Província, em especial, Estância e Bahia, como vimos anteriormente no Relatório de Presidente de Província.  (...)


 


 


fontes:

[1] Inventário: Dona Eugenia Maria de San José; Inventariante: Capitão Venâncio da Fonseca Dória. Inventário post-mortem. Cartório de 2º ofício de Lagarto, 04/06/1862, Cx.25.
[2] Inventário: Dona Paula Josefa de S. Pedro; Inventariante: Capitão José Alves de Freitas. Inventário post-mortem. Cartório de 2º de lagarto,25/08/1871,Cx.32.
[3] MACIEL, Carlos Roberto Santos. Arraia-Miúda: uma análise sobre a propriedade escrava e da população cativa em Lagarto -Se(1800-1850), Estância – Se: Trabalho monográfico, UNIT, 2007,p. 27.
[4] PASSOS SUBRINHO,  Josué Modesto dos. História Econômica de Sergipe(1850-1930). Aracaju: Programa Editorial daUFS,1987.

[1] SANTOS, Débora Santana. Código de Postura de Sergipe Imperial, Universidade Tiradentes, Aracaju, 2009, Art. 4º e 5º, p. 54.
 
[1] SANTOS, José de Jesus, Entre Engenhos e fazendas: A Formação da Família escrava na Vila Lagoa Vermelha do Boquim(1866-1873), Lagarto-Se, FJAV
[2] ALMEIDA, op. cit.  p. 117.
[3] Idem, p. 201-202.
[4] Inventário: Anna Josefa Lima de Seabra; Inventariante: Manoel de Seabra Lemos, Inventário post-mortem. Cartório de 2º ofício de Lagarto, 29/09/1855,Cx.19.


 
 
 
        

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