sexta-feira, 14 de março de 2014

BOQUIM 144 ANOS DE CONSTRUÇÃO PELOS ANÔNIMOS DE SUA HISTORIA


José de Jesus Santos – professor de História da rede pública municipal de Boquim/Se


Neste artigo coloco minha sincera homenagem a todos os anônimos da historia que contribuíram para mais de 144 anos da existência de nossa cidade. Desde os primeiros tropeiros oitocentistas, às mãos e pés de escravos, ao trabalhador do campo, ao tirador de laranja ao feirante, aos pedreiros que edificaram a primeira capelinha, levantaram as primeiras casas, àqueles que levavam água da fonte da mata para vender em seus burrinhos. 
fim de tarde Boquim/SE: fotoProfºJosé
Dedico ao feirante, ao pequeno comerciante, as domésticas e lavradoras, a juventude que sempre sonha e luta, aos religiosos que lutam e acreditam na mudança social e sempre contribuíram para o crescimento do nosso povo na eterna “Terra dos Chorões” de Senhora Sant’Anna de Lagoa Vermelha do Boquim.
Boquim cidade do interior sergipano, já poetizada de “tabaroinha do interior” por grandes literários sergipanos comemora esse ano 144 anos de história.  Quase um século e meio a partir da data da mudança da sede administrativa de Lagoa Vermelha para a vila Boquim, em 21 de março de 1870. A linguagem historiográfica da origem da cidade de Boquim/SE esteve sempre sujeita a definir as simbologias medievais e antigas da utilização do teocracismo como justificação criacionista da existência da “terra maviosa sobre as encostas da Fonte da Mata”1.

Segundo a lenda após grande enchente no ano de 1869 no vilarejo de Lagoa Vermelha sob forte chuva, o vigário Cravo rogou a padroeira Senhora Santana que se ela intercedesse no cessar da chuva ele guiaria o povo para um local mais alto e seguro. Tendo a prece atendida o vigário junto aos coronéis locais levaram os moradores para um lugar mais alto e seguro no Sítio Boquinha da Mata que resumidamente seu nome gerou a denominação de Boquim.
De acordo com registros do Livro de Batismo da Igreja Católica dos anos de 1866 a 1873, a Matriz de Senhora Sant’Anna da Lagoa Vermelha registra em 1868  em seu livro o nome “Buquim” pela primeira vez registrando o batismo de  Demetrio, no dia 1º de abril com quatro meses de vida, filho legitimo de David Geminiano de Britto e Mariana Leopoldina de Almeida tendo como padrinho Antonio Corrêa de Seabra, batizado pelo vigário Manoel Nogueira Cravo.
Tal documento nos faz analisar que um ano antes do mito da origem da cidade dando vez  a provável hipótese de que a igreja ou o vigário e escrivão já tendencionavam o futuro denominação da vila inspirado nas escrituras bíblicas. A religiosidade também está presente nos símbolos oficiais do município como a atual bandeira, por exemplo, que foi oficialmente reconhecida em 1999 –   o círculo de estrelas representa a coroa da padroeira Senhora Santana, e as cores também são uma homenagem à patrona eclesiástica.
Atualmente as festividades quanto ao aniversário citadino estão sendo direcionadas ao caráter religioso por leis e decretos municipais. O ultimo, decreta suspensão de Eventos no Município durante o período da Quaresma.  Legitimando em pleno estado laico, o proselitismo religioso do gestor municipal suspendendo “durante o período da Quaresma os eventos realizados e patrocinados pelo município como testemunha da sua fé e crença nos ensinamentos e nas palavras de Jesus Cristo”. Exceto, nas “comemorações alusivas ao Aniversário de Boquim na qual será priorizada programação de cunho religioso, bem como a Semana de Louvor patrocinada pelas igrejas evangélicas com a participação da Prefeitura de Boquim.” – assim destacado no decreto nº16 de 05 de março de 2014.
Contudo mesmo com a grande linguagem simbólica religiosa nunca devem ser olvidados os anônimos que agiram e construíram laicamente a história de nossa sociedade boquinense contrariando a hegemonia dos interesses políticos, econômicos e de poder. Estes anônimos da história dos 144 anos de Boquim, sempre secularmente passaram a quaresma do silencio e resistência para lutar e viver uma páscoa de revelações. Anônimos da história do povo trabalhador  que vigia, ora, oferece o outro lado da face e de pé dá seu sim e testemunho denunciando os sepulcros caiados que tentam controlar a sociedade porque sabem que a verdade sempre o libertará.

1. Trecho do  hino de Boquim. Música: maestro ANTÔNIO GUIMARÃES Letra: ARTÊMIO BARRETO; sendo reconhecido oficialmente junto ao Selo Municipal e a Bandeira Oficial em 1999 pela lei municipal nº416/99.






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