José de Jesus Santos – professor de
História da rede pública municipal de Boquim/Se
Neste artigo coloco minha sincera
homenagem a todos os anônimos da historia que contribuíram para mais de 144 anos
da existência de nossa cidade. Desde os primeiros tropeiros oitocentistas, às
mãos e pés de escravos, ao trabalhador do campo, ao tirador de laranja ao
feirante, aos pedreiros que edificaram a primeira capelinha, levantaram as
primeiras casas, àqueles que levavam água da fonte da mata para vender em seus
burrinhos.
fim de tarde Boquim/SE: fotoProfºJosé |
Dedico ao feirante, ao pequeno comerciante, as domésticas e
lavradoras, a juventude que sempre sonha e luta, aos religiosos que lutam e
acreditam na mudança social e sempre contribuíram para o crescimento do nosso
povo na eterna “Terra dos Chorões” de Senhora Sant’Anna de Lagoa Vermelha do
Boquim.
Boquim cidade do interior sergipano,
já poetizada de “tabaroinha do interior” por grandes literários sergipanos
comemora esse ano 144 anos de história.
Quase um século e meio a partir da data da mudança da sede
administrativa de Lagoa Vermelha para a vila Boquim, em 21 de março de 1870. A
linguagem historiográfica da origem da cidade de Boquim/SE esteve sempre
sujeita a definir as simbologias medievais e antigas da utilização do
teocracismo como justificação criacionista da existência da “terra maviosa sobre as encostas da Fonte da
Mata”1.
Segundo a lenda após grande enchente
no ano de 1869 no vilarejo de Lagoa Vermelha sob forte chuva, o vigário Cravo
rogou a padroeira Senhora Santana que se ela intercedesse no cessar da chuva
ele guiaria o povo para um local mais alto e seguro. Tendo a prece atendida o
vigário junto aos coronéis locais levaram os moradores para um lugar mais alto
e seguro no Sítio Boquinha da Mata que resumidamente seu nome gerou a
denominação de Boquim.
De acordo com registros do Livro de
Batismo da Igreja Católica dos anos de 1866 a 1873, a Matriz de Senhora
Sant’Anna da Lagoa Vermelha registra em 1868
em seu livro o nome “Buquim” pela primeira vez registrando o batismo de Demetrio, no
dia 1º de abril com quatro meses de vida, filho legitimo de David Geminiano de
Britto e Mariana Leopoldina de Almeida tendo como padrinho Antonio Corrêa de
Seabra, batizado pelo vigário Manoel Nogueira Cravo.
Tal
documento nos faz analisar que um ano antes do mito da origem da cidade dando
vez a provável hipótese de que a igreja
ou o vigário e escrivão já tendencionavam o futuro denominação da vila
inspirado nas escrituras bíblicas. A religiosidade também está presente nos
símbolos oficiais do município como a atual bandeira, por exemplo, que foi
oficialmente reconhecida em 1999 – o
círculo de estrelas representa a coroa da padroeira Senhora Santana, e as cores
também são uma homenagem à patrona eclesiástica.
Atualmente
as festividades quanto ao aniversário citadino estão sendo direcionadas ao
caráter religioso por leis e decretos municipais. O ultimo, decreta suspensão
de Eventos no Município durante o período da Quaresma. Legitimando em pleno estado laico, o
proselitismo religioso do gestor municipal suspendendo “durante o período da
Quaresma os eventos realizados e patrocinados pelo município como testemunha da
sua fé e crença nos ensinamentos e nas palavras de Jesus Cristo”. Exceto,
nas “comemorações alusivas ao Aniversário de Boquim na qual será priorizada
programação de cunho religioso, bem como a Semana de Louvor patrocinada pelas
igrejas evangélicas com a participação da Prefeitura de Boquim.” – assim
destacado no decreto nº16 de 05 de março de 2014.
Contudo
mesmo com a grande linguagem simbólica religiosa nunca devem ser olvidados os
anônimos que agiram e construíram laicamente a história de nossa sociedade
boquinense contrariando a hegemonia dos interesses políticos, econômicos e de
poder. Estes anônimos da história dos 144 anos de Boquim, sempre secularmente
passaram a quaresma do silencio e resistência para lutar e viver uma páscoa de
revelações. Anônimos da história do povo trabalhador que vigia, ora, oferece o outro lado da face
e de pé dá seu sim e testemunho denunciando os sepulcros caiados que tentam
controlar a sociedade porque sabem que a verdade sempre o libertará.
1. Trecho do hino de Boquim. Música: maestro
ANTÔNIO GUIMARÃES Letra: ARTÊMIO BARRETO; sendo reconhecido oficialmente
junto ao Selo Municipal e a Bandeira Oficial em 1999 pela lei municipal
nº416/99.
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